Histórias de Moradores da Pompeia

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores do bairro de Pirituba.


História do Morador: Leandro Antonio Gatti
Local: São Paulo
Publicado em: 01/02/2012

História: Coisas que a lógica não explica

História:

Meu nome é Leandro Antonio Gatti. Nasci aos 24 de março de 1976, em São Paulo, capital. Sou professor de História do Colégio Alvorecer (instituição educacional que em agosto de 2012 completa 30 anos de existência), além de lecionar inglês na Wizard (escola de idiomas da qual também fui aluno durante 6 anos). Devido ao fato de meu pai, João Carlos Gatti, ter trabalhado no Colégio Rio Branco e no Sesi, tive a oportunidade de estudar nestas duas instituições de renome no âmbito educacional, tendo cursado escola pública somente no Ensino Médio. Posso dizer que minha vida foi abençoada com graças que recebi, e que fizeram de mim, o que sou hoje, através de uma sucessão de fatos, de "coisas que a lógica não explica", e que ocorreram, até mesmo muito antes de meu nascimento, a exemplo de uma história contada por minha mãe, transcorrida da seguinte maneira, com ela, minha avó, meu avô e meu tio (irmão de minha mãe): "Enquanto todos dormiam no mesmo quarto, um raio de luz proveniente da imagem de N. Sra. de Lourdes iluminou todo o ambiente.

Perante seus olhos assustados a santa flutuou sobre suas cabeças e voltou para o lugar, deixando tudo às escuras novamente." Desde que soube deste acontecimento passei a ter uma relação especial com a santa. Tanto, que participo ativamente da igreja católica N. Sra. de Lourdes, próxima a meu bairro. Frequento a missa das 16hs todos os sábados, porém chego por volta das 14hs40min para arrumar o que for preciso antes da celebração. Entrego e recolho as leituras, faço papel de comentarista (ocasião em que as pessoas, inclusive, dizem que imposto a voz como um locutor de rádio), além de ler as intenções da missa e anunciar os cantos. Ajudo o sr. Nelson, taxista e corintiano como eu, a ensaiar o canto eclesiástico e todos os anos monto as peças de teatro e os presépios de Natal. Torço, e colaboro na medida do possível, para que o Pároco da igreja, Padre Marcelo Jordan, consiga realizar a tão almejada reforma desta casa de Deus.

Minha vida sempre foi permeada por "coincidências", que se acentuaram quando, em especial, envolvi-me naquilo que seria o grande trabalho que mudaria minha vida, por intermédio de um colega jornalista de meu pai, Hélio Oliveira, que, à época (1999), trabalhava no SESC, e que foi o resgate da carreira de Manuel Nunes, o Neco, primeiro grande ídolo do Corinthians, e o grande responsável pela primeira grande conquista da história da Seleção Brasileira, que foi o Campeonato Sul - Americano de 1919, época em que ainda não existia Copa do Mundo. Ao envolver-me com este projeto, que se tornou um livro, publicado em 17/09/2001, parecia que tinha desenvolvido um ímã para atração de histórias, em especial relacionadas ao Corinthians, algo que até chegou a dar medo na época, já que tanta gente apareceu na hora certa para me ajudar, ao mesmo tempo em que passei a ajudá-los, a exemplo de um pesquisador de Sorocaba, chamado Marcos Galves Moreira, de um outro pesquisador que acabaria se tornando (ainda que por um breve espaço de tempo), historiador do Palmeiras, Sr. Henrique Campi Neto, e o hoje famoso jornalista esportivo Celso Dario Unzelte, que se tornaria autor do Almanaque do Timão (do qual acabei citado como um dos colaboradores), do Livro de Ouro do Futebol, além de roteirista e pesquisador do filme "Todo Poderoso - 100 anos de Timão".

Pouco antes do início desta, que considero uma jornada espiritual (que foi o trabalho de resgate histórico - biográfico de Neco), graças a meu pai, trabalhei por muito tempo no SESC como monitor de eventos, a exemplo do Circo Nerino, realizado em 1997; no projeto Arte Cidade, do mesmo ano, onde, além de monitor, fui vendedor dos catálogos com o roteiro no qual as obras estavam. Em 1998 trabalhei na exposição " O Brasil Encantado de Monteiro Lobato", também pelo SESC Pompeia, ocasião em que conheci os biógrafos de Lobato, Wladimir Sacchetta e Carmem Lúcia de Azevedo que, por sinal, foram as pessoas que viriam a dar-me as primeiras dicas de como começar a pesquisa relacionada ao livro de Neco (já que tinha decidido aceitar, na época, um desafio tão hercúleo, praticamente sozinho, e sem entender muito de futebol). Ainda naquele ano (1998), colaborei com o projeto "Mitos que vem da Mata", primeiramente na Pompeia, e depois em São Caetano, também como monitor e contador de estórias, além da voz do Curupira nas apresentações.

Antes de aprofundar-me nas histórias relacionadas a Neco, devo dizer que, anteriormente a este trabalho, quase não tinha interesse pelo "sport bretão" e, como muitos garotos de minha geração, preferia brincar com o famoso videogame Atari e adorava revista em quadrinhos, as quais ainda guardo algumas como verdadeiras relíquias, a exemplo da primeira revista feita por computador, "Crash", com o Homem de Ferro. Entretanto, "meu diferencial", por assim dizer, era o fato de que sempre gostei de ficar perto dos mais velhos para ouvir suas histórias. Além disso, não era de brincar na rua, já que ficava mais com a babá eletrônica (TV). Minha mãe me pressionava para estudar quando era pequeno, mas depois tornei isto um hábito, que até hoje faço com verdadeiro empenho. Pratiquei natação por um ano e meio entre os 9 e 10 anos de idade. Uns dois ou três anos depois, meu pai obrigou - me a fazer judô, mas não suportei mais do que 3 ou 4 meses. Em minha fase adolescente nunca foi e nem tive vontade de ir a baladas.

Ao contrário, como Nerd assumido que sempre fui, eu andava com um japonês baixinho (apelidado de Kamikaze), além de outros gêmeos com pura aparência de CDFs, e o pessoal costumava gritar na saída da escola: “Olha os nerds indo embora”. Com 14 anos, minha aparência física rendeu - me apelidos como "quilômetro percorrido". Era magro, usava cabelo Black, óculos enormes e tinha dentes tortos (mais tarde usaria aparelho por quatro anos). Atualmente, aos 35 anos de idade, troquei os gibis por filmes, livros e revistas, especialmente Scientific American, Super Interessante e, é claro, Aventuras na História e História Viva. Mas, voltando ao meu envolvimento com Neco, graças ao colega de SESC de meu pai, o já mencionado jornalista Hélio Oliveira, conheci o então futuro autor do livro do jogador, o Doutor Antônio Roque Citadini, Conselheiro do Corinthians e do Tribunal Regional de Contas do Estado de São Paulo, que desejava "escrever sobre a vida e carreira de Manuel Nunes, popularmente conhecido como Neco", que defendeu o time alvinegro por dezessete anos (1913-1930) e que foi o primeiro (de fato) grande ídolo do Corinthians.

Durante uma reunião em família num sítio em Salto, interior de São Paulo, para comemorar o aniversário de meu pai e minha irmã (24/04 e 21/04 respectivamente), uma tia minha, ligada em esoterismo, na época, segurou um pêndulo de cristal e pediu-me que fizesse uma pergunta. Sem saber exatamente até hoje o porquê, questionei se o trabalho que estava fazendo a respeito do Neco ia dar certo, e então o objeto girou fortemente confirmando o sucesso que seria o livro algum tempo depois. No total foram dois anos de pesquisas sobre o jogador, sobre o time e sobre a sociedade da época no Brasil e no mundo até que o livro "Neco, o Primeiro Ídolo" fosse publicado.

Outro detalhe, que a lógica não explica: a dedicatória do Dr. Citadini foi escrita no exemplar que me foi entre, em 11/09/2001, mesmo dia dos ataques às Torres do World Trade Center, que estavam sendo transmitidos, ao vivo, pela TV Depois disso, ainda colaborei por mais dois anos com o blog Alambrado, do Dr. Citadini, ao mesmo tempo em que comecei meu curso de graduação em História pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), que concluí ao final de 2003. Um fato curioso que descobri durante as pesquisas do livro de Neco, através do contato que tive com a filha deste, D. Maria Odila Nunes Cardeal, foi que o médium Chico Xavier psicografou no dia 24/03/73 uma mensagem do neto de Neco, Antônio César Nunes Cardeal (conhecido como Toni), que morreu aos 20 anos no reveillon daquele mesmo ano, em um desastre automobilístico. Coincidentemente, ou não, (e como já mencionei), nasci na mesma data, três anos depois Por conta do meu envolvimento com as pesquisa de futebol, tive a felicidade de conhecer figuras humanas extraordinárias, como o também já mencionado Celso Dario Unzelte, que mesmo depois de famoso (até por aparecer na ESPN Brasil) concedeu-me uma palestra (não remunerada) sobre times de colônias na escola em que leciono, o Colégio Alvorecer.

Outro fato curioso, é que, bem antes de iniciar meu curso de graduação, quando todos os dias à noite, caminhava cerca de uma hora até o Cursinho da Poli (já que não havia condução direta até lá), eu passava em frente à casa do Sr. Orlando Bruno, morador de meu bairro, e que aos 84 anos, considero meu melhor amigo, amizade esta, inclusive, que nasceu do fato de ele também ser corintiano, e ter convivido com alguns craques dos anos 50, que vieram a ser profissionais do Corinthians Paulista, a exemplo de Paulo Carvoeiro. Após minha graduação na FMU, em 2004 parti para uma especialização em Arquivologia na USP, com duração de seis meses. Trabalhei seis meses como eventual na escola E.E. Prof. Mauro de Oliveira durante 2005, mesmo ano em que entrei no Colégio particular Alvorecer, então situado na Av. Pompeia, número 634, e que neste ano de 2012, mudou-se para a Leopoldina.

De segunda a sexta, das 07:30h às 12:50h, eu ministro aulas de História para o Fundamental II e História e História da Arte para o Ensino Médio. Graças a uma coordenação e direção abertas, sempre pude executar vários projetos complementares com os alunos. Por exemplo: junto com o professor de Geografia e os alunos de 6° e 7° anos, fiz um estudo dos nomes das ruas da Pompeia e sobre a degradação ambiental; montei a coreografia para uma quadrilha com mais de 50 pessoas; exibi curiosidades do cinema e erros de gravação em aula; fui com uma turma de 9° ano à Assembleia Legislativa para assistir a uma sessão; levei um grupo de alunos para visitar um lar para idosos situado na comunidade do Heliópolis; montei um programa de entrevistas sobre a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, no qual os alunos participavam na parte técnica ou como parte da realeza, além de um curta intitulado "A Ponte da História", e um primeiro longa "Nexus, o Jogo de Mil Vidas", em 2009. Em 2010, dirigi outro longa, de 1 hora de duração "A Terra a caminho de Vulcano?" com a colaboração dos alunos. Inspirado no planeta fictício da famosa série de TV Jornada nas Estrelas(da qual sou fã de carteirinha), o filme fala sobre a realidade alternativa a partir da gripe suína, o controle emocional e o uso da lógica.

Em 2011, novo filme: "Mundos que não queremos ver", no qual tratei da exploração do trabalho escravo infantil através dos tempos até os dias atuais. Para 2012, já está em fase de edição o especial de 30 anos do colégio Alvorecer: Um Alvorecer de Três Décadas". Devido a um bom relacionamento com os alunos, tive a felicidade de ser por 4 vezes o Paraninfo nas formaturas do colégio, além de professor homenageado, com a graça de Deus Todos os dias, quando ia para o trabalho na Av. Pompéia, via um casal de velhinhos na janela de um apartamento e pensava que também gostaria de casar para vida toda e envelhecer ao lado de minha parceira. A moça em questão, faz parte de minha vida desde 1997. Eu a conheci nas aulas de dança de salão que frequentamos por três anos. Inicialmente, eu a ajudei com alguns passos mais difíceis, já que havia entrado 6 meses antes dela, depois surgiu a amizade e então o primeiro beijo aconteceu enquanto passeávamos no Parque da Água Branca.

Silvana Leite Miranda Neves, 44 anos, branca, cabelos longos e escuros, nasceu surda, porém hoje já recuperou parte da audição. Como ela sempre gostou de artes, eu a incentivei a cursar Educação Artística na Faculdade Paulista de Artes. Atualmente ela dá aula em um colégio estadual. Morador do bairro de Vila Anglo Brasileira (próximo à Pompéia), desde meu nascimento, cheguei, por influência de meu pai, a escrever um livro sobre a região (composto por registros orais e fotos antigas que reunimos ao longo de mais de uma década), que já está finalizado, restando, apenas, a questão da publicação. Devo dizer, inclusive, que dedico este livro à minha mãe, Sandra Maria Castro Gatti, e minha irmã, Lizandra Cristina Gatti, que diferente do irmão, já está casada há 9 anos. Já para o futuro, além de concretizar o sonho do casamento e da estrutura desejada para que tal se realize e, é claro, estabilizar-me financeiramente, tenho a intenção de partir para projetos de mestrado.

À parte, tenho um projeto pessoal “pra lá de maluco e ousado” que consiste em desenvolver novas tecnologias (campo que também me fascina) que permitam ao nosso planeta ter uma proteção mais eficiente contra impactos de asteroides. Para isso já andei lendo bibliografia especializada sobre o assunto, como "O Impacto Cósmico" de John Davies, além de baixar documentários sobre este tipo de evento, e mandar e-mails para alguns trilionários para pedir apoio à causa, a exemplo de David de Rotschild. Em especial, pelas graças que recebi ao longo da vida (e que a lógica não explica), e pela santidade e preciosidade que a vida representa, sinto que tudo deve ser colocado em benefício de um maior número de pessoas, mesmo que para isso tenha que carregar o rótulo de louco ou ingênuo ( o que, sinceramente, não me importa), até porque o privilégio de sermos um planeta repleto de vida orgânica, em meio e um enorme espaço de 78 bilhões de anos - luz, sem comprovação científica de um único micróbio fora da Terra, além de a vida neste mesmo planeta já ter sido extinta e ter tido a oportunidade de recomeçar, ao longo de 4,5 bilhões de anos, é algo que, à semelhança de inúmeros outros relatos de vida, como o meu, a lógica não explica. (Enviado em fevereiro de 2012)

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